Livro: Cinder, de Marissa Meyer

Misturar os contos de fadas com alguma nova história é fórmula pronta para fazer sucesso. Isso acontece em séries de televisão como Grimm e Once upon a Time, em filmes como Into the Woods e Shrek e, também, em livros como Cinder, de Marissa Meyer
O primeiro livro das Crônicas Lunares relata a vida de uma ciborgue chamada Cinder. A história é - ou era para ser, mas vou discorrer sobre isso mais para frente - uma releitura de Cinderela. Ela vive com uma guardiã legal e duas irmãs postiças. Seu pai adotivo já está falecido há vários anos por conta de uma epidemia que tem alcançado grande parte da população, inclusive o rei. 

O enredo ocorre em Nova Pequim, uma versão futurística da China, comandada pelo príncipe Kai, já que o rei está cada vez mais próximo da morte. É interessante que, apesar de certa desconexão com o presente, vários costumes asiáticos atuais estão presentes na história que poderia muito bem ser retratada em formato de mangá ou anime. O comportamento dos personagens e as descrições dos cenários contam com referências que vão desde Inuyasha até Sailor Moon
Cinder é a melhor mecânica da região e trabalha consertando tablets, equipamentos eletrônicos, robôs-acompanhantes, entre outros. Inclusive, a sua grande ajudante e melhor amiga, Iko, é uma robô muito vaidosa que é dotada de fortes aspectos e ideais humanos. Já a protagonista, apesar de humana, só demonstra a vaidade em alguns aspectos. Está muito longe - e isso é ótimo! - do estereótipo de princesa de Conto de Fadas.
A maneira como o livro de Meyer discute os gêneros é muito interessante. Cinder é uma nova Cinderela, só que ao invés de trabalhar como faxineira - profissão quase sempre ocupada por mulheres -, trabalha como mecânica - profissão quase sempre ocupada por homens. Além disso, é também um livro que fala sobre robôs. Assunto que, até então, era muito mais discutido por "meninos". Cinder é princesa, mas também é robô. Cinder é para meninas, mas também para meninos. Qualificar histórias como "de menino" ou "de menina" é algo que Meyer sabe driblar - e criticar - muito bem com este enredo. 
Um dos pouquíssimos pontos em que Cinder deixa transparecer a vaidade é o "lado robô". Ciborgues sofrem muito preconceito na sociedade e com a protagonista não é diferente. Na verdade, com ela é até pior. Sua guardiã legal é muito mais cruel do que as pessoas nas ruas. Por isso, Cinder sempre disfarça o braço e o pé mecânicos com roupas e equipamentos que acobertam. Quando conhece o príncipe Kai, ela já não sabe até que ponto conseguirá sustentar esse segredo. 
A grande vilã da história não é a madrasta/guardiã legal. É, na verdade, a Rainha Lunar. A governanta do povo que vive na lua e que pretende usar da certa "inocência" do príncipe Kai para, assim, dominar a Terra. A possível guerra intergaláctica é uma das principais tensões da trama, mas que deixa a desejar ao ser representada por uma vilã com argumentos muito fracos. Talvez as motivações da Rainha Lunar sejam melhores explicadas nas continuações.

Confesso que o livro é bem previsível em vários pontos. Mas, isso não acontece porque ele reformula uma história já conhecida. Até porque Cinder está muito distante de Cinderela. Os elementos que remetem ao conto de fadas são secundários. Se não fosse pelo nome do livro, as referências ao conto original poderiam passar batidas - exceto em alguns momentos, como o fim da terceira parte e o começo da quarta. De resto, Cinder é uma história completamente original que independe de contos de fadas para conquistar a fórmula do sucesso. 

Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

    Comentários do Blogger
    Comentários do Facebook

0 comentários:

Postar um comentário