Livro: Memórias de uma Gueixa, de Arthur Golden

Sou apaixonada pelo filme Memórias de uma Gueixa, já assisti várias vezes e a história sempre me encanta. Então, eu tinha muita vontade de ler o livro, não só por causa do filme, mas também porque sou admiradora da cultura japonesa.
A história é sobre Chiyo, que vivia em uma cidade litorânea chamada Yoroido juntamente com seus pais e sua irmã Satsu. Com a mãe doente e a incerteza do futuro, um homem rico da região, chamado Senhor Tanaka, acaba convencendo o pai de Chiyo a vender as duas filhas para um Okiya (casa em que vive uma gueixa). Sua vida muda totalmente ao ter que se integrar na cultura das gueixas de Guion, Kioto. Desejando apenas fugir juntamente com sua irmã – que acabou virando prostituta e não gueixa – Chiyo, num ato desesperado para escapar, acaba caindo do telhado e sujando o nome de seu Okiya. Seu castigo será viver como criada para sempre e não como uma gueixa.
Com o passar do tempo, vivendo uma tristeza terrível pela falta que sentia de sua família, Chiyo é abordada na rua por um homem gentil e rico – acompanhado de gueixas –, que ao ver sua tristeza, a consola e lhe dá dinheiro para comprar uma raspadinha. A partir disso, Chiyo deseja com todas as forças ser uma gueixa para poder se aproximar daquele homem, por quem ela se apaixona. 
Basicamente, é essa a metade da história de Chiyo, porque a outra metade é de Nitta Sayuri, a gueixa que Chiyo se torna. Somos apresentados e imergidos na cultura japonesa, especificamente de Kioto. Tenho que dizer, que gostei muito do livro e a história é muito bela, mas por ser um escritor americano contando uma história japonesa, ele acaba pecando em diversos aspectos.
Primeiro, Arthur Golden usa e abusa de metáforas, tentando imitar o estilo japonês de escrever, que acabam sendo cansativas e forçadas. Simplesmente elas não combinam. Segundo, os Estados Unidos em nenhum momento, mesmo se passando na época da guerra, é criticado. Nem sequer são mencionadas as bombas atômicas de Nagasaki e Hiroshima. E os próprios japoneses não parecem estar tão patriotas em relação ao Japão. E terceiro, não entendo porque Sayuri/Chiyo tem olhos azuis, sendo que seus pais são japoneses. O autor possivelmente tentou dar características ocidentais para ela ou dar um destaque a personagem, que aos seus olhos, se fosse japonesa de olhos escuros, seria igual a todas as outras gueixas.
Outra coisa que peca no livro, não sei se é culpa do autor ou do tradutor da versão brasileira, mas as traduções em japonês são bem ruins. Por exemplo, em um momento Chiyo vai a um Okiya e ao entrar grita “Desculpa!”, sendo que a melhor tradução seria “Com licença!”. Isso se dá a um erro de interpretação da língua japonesa, no qual foi feita literalmente.
Para quem não sabe, Golden, antes de escrever o livro entrevistou uma famosa gueixa chamada Iwasaki Mineko e prometeu que não revelaria sua identidade. Ele não só fez isso, como utilizou vários acontecimentos da vida dela na história. Iwasaki Mineko não só recebeu críticas por conta disso, como também ameaças de morte por violar o tradicional código de silêncio das gueixas. Mas o pior foi Arthur Golden deturpando a cultura gueixa dando a impressão de serem prostitutas, quando não são. É difícil para um ocidental, achar que um homem paga uma mulher para entretê-lo apenas com conversa, dança e música e não com sexo. Para saber mais sobre realmente como era a vida de uma gueixa seria melhor ler o livro que Iwasaki Minekoe escreveu depois, chamado Minha vida como uma gueixa – que eu não tive ainda a oportunidade de ler.
Apesar de tantas críticas, é difícil não se envolver com a história. O enredo foca bem no dia-a-dia de Sayuri, na transformação em gueixa e a mudança que isso faz em sua personalidade. A história faz parecer que o livro realmente é uma biografia, como se o autor tivesse entrevistando Sayuri como um gravador e transcrito tudo que ela falara. A descrição de Golden é muito boa, presando bastantes detalhes para que nos situemos na cultura. Assim, como o filme, envolvi-me demais com a história.



Curiosidade: O filme também possui suas polêmicas, como o uso de atrizes chinesas em vez de japonesas. Sem falar que as gueixas da adaptação possuem penteados e maquiagem bem diferente da realidade, o que é uma pena.

Créditos da segunda imagem: Japanexperterna.se

A imagem da esquerda é do filme e a da direita é de uma gueixa real. Percebem o cabelo e a maquiagem como são bem diferentes? Até a forma de amarrarem o quimono é diferente também.

Danielly Stefanie

21 anos, formada em Publicidade. Não sabe se gosta mais de escrever ou de desenhar. Não sabe se tem mais medo da tela em branco do Word ou do Photoshop. Lê praticamente qualquer tipo de livro. É apaixonada por cultura japonesa, faz aulas de japonês, pratica karatê e kobudo. Sem falar todas os animes que assiste. Um dia vai trabalhar no Studio Ghibli (só não sabe se será desenhando ou escrevendo).

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