Trumbo, a história de um roteirista comunista em Hollywood

Depois do enorme sucesso em Breaking Bad, Bryan Cranston não conseguiu emplacar nenhum papel interessante no cinema ou na TV. Fez o questionável Godzilla e o fracasso Dinheiro Sujo. Depois, só pontas e participações especiais. Mas agora, em 2015, o ator se redime com a telona com sua atuação em Trumbo. Será um novo recomeço na carreira de Mr. White?

O filme conta a história de um período da vida de Dalton Trumbo (Cranston, impecável), um famoso roteirista de Hollywood que começa a ter problema em achar empregos após a sua filiação ao Partido Comunista. O grande problema é que os EUA está entrando na Guerra Fria e a caça aos comunistas começa a se alastrar pelo país. Assim, Trumbo e outros amigos entram numa espécie de Lista Negra dos estúdios de cinema.

Há ainda alguns complicadores. A jornalista Hedda Hopper (Helen Mirren), por exemplo, assume o papel de acabar com o comunismo em Hollywood, perseguindo pessoas como Trumbo. Caso algum estúdio aceite contratar um integrante da Lista Negra, Hopper assume as funções de acabar com toda a reputação da empresa em sua coluna no jornal. É um antagonista um tanto quanto odiável.

Assim, como é perceptível, a história é incrível. Apesar da trama ser um tanto quanto batida, Trumbo é um personagem maravilhoso que não teme, em momento algum, os seus perseguidores, mantendo os seus ideais vivos até o fim. A forma que ele encontra de driblar a falta de emprego é genial, rendendo boas e sonoras gargalhadas. A relação dele com a família, como as conversas com a filha mais velha (Elle Fanning), são ótimas também e rendem bons diálogos e situações.

As atuações representam outro ponto alto da trama. Cranston está incrível e consegue transmitir toda a angústia de seu personagem, apesar de tentar não transmitir isto para sua família. Helen Mirren está bem, apesar de parecer estar no automático em alguns momentos. Elle Fanning convence como filha e Diane Lane (a esposa de Trumbo, Cleo) também está bem.

O destaque dentre os coadjuvantes, entretanto, vai para a dupla John Goodman (Caçadores de Obras Primas) e Stephen Root (Selma). Os dois veteranos estão confortáveis nos seus personagens e fazem um trabalho excelente, apesar de aparecerem menos do que deveriam.

O grande problema para o filme não ser uma obra-prima está no comodismo da direção e do roteiro. O diretor Jay Roach, que está acostumado com comédias como Entrando Numa Fria e Um Jantar para Idiotas mostra que não está acostumado com dramas e faz um trabalho certinho demais. Não inova em movimentos e jogo de câmeras, além de ter uma edição óbvia.

Além disso, Roach não consegue resolver um problema grave de roteiro - que deixaria Trumbo, autor dos clássicos A Princesa e o Plebeu e Spartacus, um tanto quando chateado. O filme, infelizmente, não tem uma boa noção de tempo. Uma passagem em uma prisão parece durar semanas, mas depois é revelado que se passaram anos. Nem o roteiro, nem a direção dão conta disso.

O roteiro, apesar de ter bons diálogos (com exceção de um, que quer explicar o comunismo e faz alusão ao lanche dividido no recreio) e boas intenções, também é quadrado demais. Não surpreende, não inova, não cria um clímax. O final acaba se tornando um pouco corrido e alguns aspectos da vida de Trumbo também somem inexplicavelmente.

Enfim, Trumbo é um bom filme. Boas atuações, boa história. Só faltou uma pitada a mais no roteiro e na direção para se tornar um filmaço de verdade. De acordo com a distribuidora do filme no Brasil, o longa deverá estrear nos cinemas no dia 28 de janeiro.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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