Gastronomia Literária: O Frango Ensopado da Minha Mãe

A gastronomia está em alta. Depois do sucesso do programa MasterChef, falar sobre comida virou moda. Não é à toa que os recentes filmes Chef e A 100 passos de um sonho, por exemplo, fizeram muito sucesso no País, mesmo tendo um desempenho apenas mediano no exterior.

Foi embalado por essa onda que resolvi ler o livro de crônicas de gastronomia O Frango Ensopado da Minha Mãe. da chefe de cozinha e colunista da Folha de S. Paulo Nina Horta. Autora do best-seller Não é Sopa, a autora reúne uma série de histórias curtas sobre suas experiências na cozinha, separadas por categorias como Produtos, Rotina e Viagens. Todas, obviamente, ligadas aos costumes gastronômicos e sobre sua vida como uma chefe.

Apesar de ter algumas boas histórias, o livro decepciona um pouco no começo. Em vários momentos - principalmente na parte de Negócios -, a autora se torna um pouco simplista e até mesmo arrogante. Personificando todos os clichês dos chefes de cozinha (como aquele ar de superioridade e o nervosismo com "incompetência" dos outros). Cansa e frustra o leitor.

Além disso, obviamente, a qualidade do texto varia ao decorrer da leitura. Por se tratarem de 115 crônicas publicadas em sua coluna semanal, a qualidade não é constante. Afinal, em algumas semanas ela poderia estar inspirada e em outras nem tanto. E isso, obviamente, reflete na qualidade final da obra.

Entretanto, obviamente, nem tudo é ruim. A autora tem um poder narrativo para descrever alimentos, sabores e cheiros que não é visto com frequência. Em algumas crônicas, conseguia me sentir dentro da cozinha de Nina, usando todos os meus sentidos.

A autora também tem uma qualidade inegável de conseguir recriar ambientes. Alguns deles, aliás, remetiam aos tempos de minha vó, deixando uma sensação gostosa com a leitura. Parecia que estava vendo minha avó cozinhar em seu antigo fogão, enquanto assistia tudo da mesa de madeira no canto.

Enfim, O Frango Ensopado de Minha Mãe é um livro instável. Possui boas descrições e algumas histórias de nostalgia emocionante. Entretanto, a baixa qualidade de alguns textos e a aparente prepotência de Nina em certos momentos tira a qualidade final do livro, que não consegue se igualar ao incrível Não é Sopa em nenhum aspecto.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

    Comentários do Blogger
    Comentários do Facebook

0 comentários:

Postar um comentário