Cidade em Chamas, de Garth Risk Hallberg

Quando recebi Cidade em Chamas pelo correio, meu sorriso se abriu. Era uma leitura que estava com vontade de realizar desde que entrei em contato com o livro há alguns meses. Afinal, tudo nele chama a atenção: a capa é linda, com efeitos metálicos e uma paleta de cores alaranjadas que deixa qualquer um boquiaberto. Em segundo lugar, a história que se pretende contar. Na sinopse, o livro fala que acompanhará a vida de diversas pessoas em torno de um homicídio que ocorreu no Central Park, por volta da década de 1970.

O livro, então, se propõe a ser uma carta de amor aos anos 70. Com uma atmosfera hippie e muito transgressora, Cidade em Chamas usa a história do homicídio apenas como um pano de fundo, para transformar o livro em algo muito maior e mais reflexivo.

É impossível não criar uma certa ansiedade para ler essa história, não? A década de 1970 é incrível e sempre fez parte do meu imaginário.  Ou seja: parti para a leitura do livro com uma expectativa nas alturas. Porém, como já diria o ditado: não crie expectativas, crie unicórnios.

O livro é um caos narrativo. O autor, Garth Risk Hallberg, não tem a habilidade literária necessária para organizar as oito histórias que se propõe. Além disso, a quantidade de flashbacks que ele insere na história é INSUPORTÁVEL. O ritmo é interrompido a todo o momento e, muitas das vezes, por coisas desnecessárias e que não dão peso narrativo algum para a trama. Sinto que ele queria ser David Foster Wallace, de Graça Infinita. Mas não chega nem perto.

Esses erros, no entanto, são esperados. Afinal, Hallberg teve sua estreia literária com Cidade em Chamas. Sim. Esse calhamaço de 1040 páginas é o primeiro livro do norte-americano. Pois é.

Além disso, por se passar na década de 1970, esperava muito mais transgressão. Muito mais sexo, drogas e rock'n'roll. E não é bem assim. Tem muito mais discussões etéreas e pessoais do que coisas do tipo.

Felizmente, porém, os erros terminam por aí, salvando o livro de uma catástrofe. A história em si acaba prendendo o leitor, por meio de laços que são construídos com os personagens ao decorrer das páginas. Além disso, a ambientação é muito boa, com fortes referências musicais. Aliás, várias vezes acabei colocando Bowie ou Stones para acompanhar a leitura. Difícil não sentir essa vontade.

O ponto alto, porém, é a utilização de várias linguagens de maneira extremamente criativa. Hallberg mescla texto direto com fanzines, cartas, diários... Tudo muito bem usado e interessante para o universo narrativo.

Enfim, Cidade em Chamas não é o maior livro do século, como a editora queria fazer parecer. É bom, interessante e bem ambientado. Mas não sai disso. Livro ideal para fãs da década de 1970.



Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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